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Linha tênue.

Linha tênue.
31 de Agosto de 2022   |  

                        Uma sociedade evoluída é uma sociedade trivial? Nunca imaginamos que seria assim, mas ao que tudo indica, as coisas caminham para um lugar tolo e banal, nada mais tem o seu valor, tudo é rápido demais e efêmero. A tecnologia nos fez caminhar de maneira tão veloz, que a vida virou uma rede social, e o “ao vivo” parece estar no ostracismo. Entretanto, se tudo se tornou superficial, será que as artes também não entram nesse balaio?


 LEIA TAMBÉM: "A BASE DA MÁGICA"


                        Certamente, é difícil tocar nesse assunto e não parecer um “classicista”, não quero de maneira alguma me apegar a valores e um passado virtuoso que só existe na cabeça dos saudosistas. Deixe o amor ao clássico e o ódio ao novo, para os reacionários, é importante sempre estar aberto para as novidades e as demandas de cada tempo. Dito isso...


 


                        É absurdo o caminho de trivialidade que as artes vêm tomando. A criação se tornou opcional, você pode apenas fazer trends e está tudo bem (não está). Evidente que muita coisa boa acontece nas redes sociais, muitos artistas brilhantes encontram lá uma maneira de expor seus conteúdos. Todavia, porém, entretanto, existe uma enorme massa de pessoas buscando apenas os holofotes, sem ter muito o que comunicar ou expressar.


 


                        Na faculdade de artes cênicas, notei a entrada e logo em seguida a evasão, de alunos que estavam buscando uma maneira de carimbar um selo de artista, mas que odiavam e tinham repulsa dos conteúdos. Parece piada, mas eu vi gente atrapalhando aula de história da dança para gravar tiktok... DANÇANDO. Parece, apenas parece, que a publicação do conteúdo, está muito mais ligado ao alcance do que com o próprio conteúdo, e aí vem a pergunta: adianta alcançar alguém se não tem conteúdo?


 


                        Ninguém precisa estudar para ser um artista, “O ser humano é um ser artista” como já dizia Boal, é algo ligado ao ser interior e suas maneiras de expressar isso para o exterior. Contudo, se estamos apenas replicando coisas, será que estamos expressando algo? Será que não está acontecendo um esvaziamento desenfreado do âmago?


 


                        São muitas dúvidas que nos cercam, a velocidade da evolução tecnológica nos coloca em um lugar de perguntas e análises. Em toda produção de conteúdo existe esse questionamento, na mágica não seria diferente. Qual o caminho estamos tomando na mágica? Para onde estamos indo com esse novo modo de se apresentar? Recomendo a leitura de um texto aqui do blog.


 


                        Não há dúvidas da importância das redes para a difusão da mágica nos dias de hoje, mas existe um meio-termo entre se entregar ao todo paras as redes, e utilizar ela como um meio para alcançar público e manter viva a mágica no mundo “não-virtual”. Se você busca ser um mágico de internet, esse texto não serve muito para você, e tudo bem, na arte tudo pode, só não pode qualquer coisa. É valido ser um mágico de instagram, é a inovação. O intuito dessa publicação é gerar indagações e provocar o pensamento para que possamos refletir os nossos caminhos, tanto os individuais quantos os coletivos, tendo em vista que cada ação de cada mágico gera uma mudança objetiva no rumo do ilusionismo.


 


                        Em suma, existe uma linha tênue, entre postar mágicas por que se gosta e quer mostrar o seu conteúdo, e ser obrigado a postar porque a linha já foi cruzada e agora você é um escravo do algoritmo. A métrica do engajamento, não pode valer mais que o conteúdo, ou ao menos não deveria valer. Será que não estamos todos caminhando para o cruzamento dessa linha e esquecendo que mágicas não são “views”, e sim sentimentos e reações?


-João Victor Biolchi




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