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O problema do mentalismo.

O problema do mentalismo.
06 de Julho de 2022   |  

                        A mágica é complexa. O fato de coexistir no mesmo universo vário estilos diferentes de ilusionismo, pode gerar algumas dúvidas no espectador. “Ah, aquilo com cartas é mágica, pickpocket é outra coisa.” “Então ilusionismo é tudo no palco e grandioso, como chama essa com moedas?” “Mas não é mágica né, tem um truque aí.” “Mágica é uma coisa, mentalismo é sobrenatural”. Frases que em algum momento você já ouviu ou vai ouvir, mas a questão é: tudo é MÁGICA, da moeda ao baralho, dos aros chineses ao mentalismo, tudo é mágica.


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                        Quando um efeito mágico ocorre, estando ele no campo dos efeitos “físicos”, os espectadores tendem a aceitar mais como uma ‘mágica’. É claro que, dependendo do efeito e da performance e do mágico, os espectadores vão sim, entrar em uma suspensão da realidade e vivenciar aquela mágica. Esse tipo de efeito pode sim, deixar todos incrédulos e dissolver as convicções do espectador, contudo, é uma incredulidade que aceita mais facilmente o fato daquilo ser “mágica”.


                        Infelizmente, existem vários casos onde essa “aceitação” não ocorre, e a maioria delas está ligada ao mentalismo. Por algum motivo, seja ele cultural ou não, uma grande parte das pessoas enxerga os “efeitos psicológicos” como algo mais profundo, algo que vai além da mágica.


                        Um bom mágico sabe que a arte está presente em mesma proporção em um efeito de “leitura de mentes” ou em um ACAAN. A impossibilidade deve, ou ao menos deveria seguir a mesma regra, os efeitos podem diferir, mas os dois ainda fazem parte do espectro da mágica.


                        Mas ora, se o espectador enxerga no mentalismo uma impossibilidade quase que divina, algo sobrenatural, deve o mágico se aproveitar disso e utilizar tal sentimento para engrandecer o seu show? Sem sombra de dúvidas, a resposta é SIM! Até porque um bom efeito de cartas ou de palco, gera o mesmo sentimento de impossibilidade e isso deve ser aproveitado.


                        A diferença é que, no mentalismo existe uma linha tênue entre a mágica e o charlatanismo. Essa linha também existe em outros estilos, mas por algum motivo, é mais comum ver ela ser cruzada quando se trata de mágicas relacionadas a mente. E como o texto fala sobre isso, focaremos nesse problema do mentalismo.


                        Mas o problema está no estilo de mágica denominado mentalismo? Claro que não, o vício se encontra nos ilusionistas que visam outra coisa que não seja a arte. Isso pode ocorrer em qualquer estilo, contudo, tem sido cada vez mais comum ver mágicos ou ex-mágicos, se passando por paranormais, por videntes, alguém com um “dom divino” e pior ainda, virando coaching e falando de mentalismo para melhorar a vida das pessoas. Mentalismo é mágica, é técnica aliada ao texto para criar um efeito, não existe nada dentro da arte mágica que vai te fazer ganhar “100 mil reais em 7 dias”, ou qualquer outra falácia que você possa encontrar na internet.


                        É plausível que existam artistas que utilizem tais questões, como a paranormalidade, na formação de sua persona, onde ele de fato é mais místico ou sobrenatural. Contudo, isso deve se ater ao palco, levar isso como verdade para o meio social, é desastroso e fere a arte de uma maneira absurda.


                        Não existe problema algum em subir no palco e ter poderes, ser um deus ou algo do tipo. Mas não deixe que isso se torne uma verdade e que pessoas comecem te seguir acreditando que existe algo por trás. O mundo já tem mazelas e falsidade demais, seja um artista, não seja um charlatão que planta mais uma semente de ignorância na sociedade.


-João Victor Biolchi



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