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Da naturalidade ao invisível

Da naturalidade ao invisível
18 de Janeiro de 2023   |  

                        Uma das coisas fundamentais na mágica, é a suspensão da descrença, um ilusionista tem o dever de tornar aquilo que faz em realidade, precisa dominar o seu público para que o efeito realmente aconteça. O entrave mais comum para que o publico não entre na atmosfera mágica, é a falta de naturalidade, quando o mágico está travado e tudo fica engessado, ou as coisas ficam destoantes dentro daquele sistema.


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                        Quando iniciamos no mundo do ilusionismo, o primeiro passo é aprender as técnicas e tentar molda-las a nossa maneira, ou nos moldar para executar determinado passe. Levamos um bom tempo até tornar aqueles movimentos naturais, até atingir a fluidez que é necessária para que aquilo passe despercebido. Naturalidade é algo singular para cada mágico, não faz sentido você executar todos os movimentos com grandes acrobacias, e fazer um DL de maneira simples e sorrateira. Ser natural é buscar a sua identidade e casar os seus movimentos com algo que combine com você, é literalmente ter fluidez.


 


                        É evidente que a naturalidade não é o único campo que você precisa trabalhar para criar uma suspensão de descrença, a mágica como um todo precisa ser abordada, o texto, o efeito, o local, a velocidade, a música, as cores, etc.


 


                        Entretanto, a naturalidade é o começo de algo que, para alguns, pode até ser um sinônimo, mas acredito ser uma evolução da naturalidade. A mágica precisa ser invisível. E quando digo “mágica” estou falando da esfera que corresponde ao método. O conceito de invisível é muito mais amplo do que “não ter visibilidade”, ele pode abarcar o conceito filosófico, que traz a invisibilidade como algo que não corresponde a uma realidade sensível. Logo, todo elemento sensível parte do pressuposto que "aquilo que faz com que uma coisa seja o que é”, mas se buscamos algo invisível, esse “aquilo que faz” não existe pra explicar o acontecimento. Nesse vácuo do pensamento, introduzimos a atmosfera mágica.


 


                        Não basta fazer um anel levitar utilizando um bom fio invisível, o importante não é o fio ter ou não a visibilidade, é necessário buscar um efeito onde seja impossível conjecturar a existência de um fio. A invisibilidade é algo que vai além da naturalidade, pois não está apenas relacionado à percepção visual ou sensorial do espectador, está intrinsecamente ligada com os possíveis pensamentos ou ideias que possam vir na mente da plateia. Fazer mágica, é a arte de não deixar a mente do espectador cogitar a existência do verdadeiro método que torna aquele efeito possível. Avancemos rumo ao invisível.


- João Victor Biolchi




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