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Corpo e Cena

Corpo e Cena
13 de Abril de 2022   |  


Que a mágica é uma arte, isso nós sabemos, mas, parem além de uma arte contemplativa, a mágica é performática, logo, só acontece mediante a execução de uma performance. Contudo, será que os mágicos são todos performers? Será que muitos de nós, não estão apenas subindo no palco e falando sem de fato performar algo? São questionamentos válidos, que deveríamos fazer mais vezes, e o texto de hoje trata exatamente disso.


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O ilusionismo é um caminho complicado, é preciso colocar muito estudo e dedicação para realmente fazer uma arte de qualidade. São tantos pontos para estudarmos, técnica, teorias, escolhas de efeitos, montar uma rotina, montar um show, escrever o texto, em muitas ocasiões ainda temos que produzir o próprio espetáculo, enfim, muitos fatores que precisamos nos atentar. Por vezes, esquecemos de um detalhe importantíssimo no show: nós, o nosso corpo e a nossa postura.


Buscando a etimologia da palavra “performance”, encontrei um texto que pode jogar luz em nossos questionamentos. “A palavra performance é formada pelo prefixo de origem latina per. Segundo o Dicionário Aurélio per pode assumir o significado de movimento através, proximidade, intensidade ou totalidade, como em percorrer, perdurar, perpassar. O substantivo forma, também de origem latina, significando limites exteriores da matéria de que é constituído um corpo, e que confere a este um feitio ou configuração particular.”


Logo, performar uma arte, está muito além de dar o texto. Fazer mágica, não é simplesmente ser invisível em seus movimentos, mas entender que todo o seu trabalho corporal, sua voz, seu caminhar, tudo isso influencia no efeito. A construção da persona deve passar por estes estudos, ou ao menos deveria.


Quantas vezes você já viu mágicos incríveis, com habilidades e conhecimento ímpar, se apresentando de maneira retraída e cabisbaixa. Busque lembrar desse artista, não importa o quão inteligente ele seja, ao se apresentar olhando para o baralho, sem postura e não criando conexão com o público, até o mais belo artista perde o brilho. Por outro lado, um artista “mediano”, mas que ao se apresentar tem energia e está mais trabalhado quanto a sua percepção corporal, tem maiores chances de se destacar.


Vale ressaltar que, não estamos falando de qualidade técnica e nem querendo “medir” nada. Existem artistas que tem uma persona mais retraída, mas mesmo aqueles que são mais ‘blasé’ ainda possuem presença. É pertinente frisar que, nem todos os mágicos precisam ser perfomers também. Existem grandes teóricos, mentes brilhantes que estão por trás de efeitos mundialmente conhecidos. Existe espaço para todos, mas acredito ser interessante conhecer as possibilidades de seu corpo e sua expressão para buscar uma melhor atividade no palco.


Ter postura e ter energia, não significa seguir um padrão de mágico “engomadinho” no estilo britânico. Precisa estar ligado a você, a sua persona, seu estilo e a sua maneira de estar presente. Experimente se conhecer, se perceber em cena, para então localizar os pontos fracos e melhorar. Pode ser uma cabeça baixa, uma voz tremula ou até mesmo uma falta de enraizamento que te faz andar para todo lado. A mágica é muito complexa, analisar estes pontos, pode ser algo doloroso e parecer sem sentido, mas com o tempo, verá a diferença e a possível evolução de sua arte.


Se você gostou deste tema e quer se aprofundar mais, gostaria de recomendar uma obra que mudou a maneira como eu enxergo o corpo artístico e sua relação com o espaço. A obra em questão é “O corpo tem suas razões: Antiginástica e consciência de si’, de Thérése Bertherat e Carol Bernstein, boa leitura.
-João Victor Biolchi



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