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O Livro Que os Mágicos Não Querem Que Você Leia

O Livro Que os Mágicos Não Querem Que Você Leia
15 de Novembro de 2024   |  

            Mais um livro de mágica batido e com efeitos comuns que você já conhece. É isso que você pode pensar sobre o livro do Felipe Barbieri, mas, se você pensa isso, sinto em lhe informar, você está completamente enganado.


            Sim, a figura do Barbieri é controversa, você pode não gostar dele por N fatores, mas é inegável que, graças a ele, muitas crianças e jovens entraram para o mundo do ilusionismo. Não é a primeira vez que eu abordo a questão do "elitismo mágico", uma arte fechada que basicamente se retroalimenta de jovens burgueses que têm condições de comprar gimmicks, equipamentos, livros ou até mesmo uma Bicycle, já que no Brasil até um bike é artigo de luxo.


            Seguindo nessa toada de propagar a arte mágica, o ilusionista de Jaú, Felipe Barbieri, traz um material muito interessante. Fugindo do proselitismo mágico, Barbieri não quer criar nenhum confrade, ele busca transformar a mágica em uma ferramenta de interação, uma pequena porta que se abre para que crianças criem gosto pela arte do ilusionismo, aprendendo coisas simples e rápidas que funcionam na escola e outros ambientes.


            Contudo, antes de propriamente ensinar algum efeito mágico, Barbieri faz questão de situar o leitor sobre a história da mágica e o que é mágica. E isso deixa o livro extremamente rico. Não se trata de um amontoado de efeitos e técnicas para você aprender, esta obra é realmente um compêndio sobre a arte mágica, um ótimo ponto de partida para quem está entrando no mundo do ilusionismo.


            Eu conheço diversos colegas da profissão que não fazem ideia do que foi o Papiro de Dedi (Westcar), conheço uma centena de colegas que não estão familiarizados com as categorias e separações da mágica. Tem gente até hoje que acha que ilusionismo é algo maior, que mágica é infantil e que — essa é a mais bizarra para mim — que mentalismo não é mágica. Ou ao menos fingem achar isso. Se há no mercado mágicos profissionais que não conhecem essas histórias e termos, imagine o quão rico isso é para os iniciantes.


            A obra "Mágicas para Fazer na Escola" é muito mais do que truques ou efeitos para a escola. É evidente que Felipe Barbieri conseguiu criar um livro introdutório de ótima qualidade, que inova, mas que também não foge ao clássico, como, por exemplo, um capítulo sobre os mandamentos dos mágicos.


            É importante pensar na obra não apenas como algo individual e solto no mundo, mas em como essa obra se encaixa no contexto e na sociedade em que foi publicada. E, nesse aspecto, o livro acerta novamente. Com uma linguagem simples e acessível, ele se adequa perfeitamente à realidade de um Brasil que lê pouco, reflexo de sua profunda desigualdade social, da falta de estímulo, estrutura e formação acadêmica — fatores que não podem ser ignorados. Escrever uma tese de doutorado, como fez Ricardo Harada, é algo louvável e profundo. Mas escrever um livro introdutório e que tenha uma boa qualidade, também tem o seu valor e é muito importante que exista. Barbieri combina um tom acessível e informal com orientações passo a passo que levam o iniciante a conjurar seus primeiros efeitos.


            Repleto de preciosidades, o livro ainda traz dicas de programas de mágica, curiosidades sobre o baralho e um glossário iniciante para que o jovem mágico possa compreender melhor as instruções de cada efeito que será ensinado.


            São 30 mágicas interessantes, que trazem uma explicação detalhada e com muitas imagens que realmente ajudam o leitor a entender como cada coisa deve ser feita. Juntando esses efeitos, a história da mágica, as curiosidades e o toque pessoal de Felipe Barbieri, sem dúvidas essa é uma obra que vale muito a pena ser lida, principalmente se você está iniciando, mas não somente para os novatos. Existem ali algumas dicas valiosas que podem ajudar aqueles que estão nos primeiros anos da carreira. Entender a história da mágica e saber algumas coisas inusitadas tornam o mágico mais interessante, e isso abre portas para novos estudos.


            Mas, então, é um livro perfeito? Não. Existem alguns detalhes que não podemos deixar passar. São ótimos efeitos mágicos, mas são de quem? O livro peca ao não trazer os nomes dos efeitos e não dar créditos aos criadores. Ora, uma obra dessa só existe porque outras foram escritas antes. Fazer jus ao passado e ao legado dos mágicos é algo que não podemos deixar passar. Dai Vernon deu sua vida para pesquisar a mágica, Juan Tamariz está até hoje vivendo em prol da arte do ilusionismo. Diversos autores foram utilizados no livro e a falta de atribuição aos efeitos e a não existência de uma bibliografia tornam o livro mais pobre. Mas ainda assim é uma obra interessante e que deve ser consumida.


            Ademais, o livro é gostoso e divertido. É uma obra para crianças e adolescentes, é perfeito para um pai que é entusiasta da mágica ler com seu filho, e até o pai vai se maravilhar com alguns efeitos. O livro merece o seu tempo e merece ser lido, pois é uma obra brasileira que traz um nível interessante de qualidade. No contexto do mercado nacional, o livro "Mágicas para Fazer na Escola", de Felipe Barbieri, se apresenta como um recurso acessível e prático.


            Por fim, é essencial que a mágica seja amplamente difundida, e este livro cumpre bem esse papel. Precisamos democratizar a arte do ilusionismo, ou corremos o risco de nos enclausurarmos em um círculo restrito que apenas se retroalimenta.


 


- João Biolchi



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