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Amoralman - Detalhes de uma tendência

Amoralman - Detalhes de uma tendência
23 de Junho de 2021   |  

Ian Frisch - jornalista por profissão, jogador de pôquer por tradição familiar e mágico por paixão - em seu livro "Magic is Dead", editado em 2019, analisa uma das tendências marcantes da arte mágica neste primeiro quarto do século 21. Mostra como a magia com cartas de baralho se destaca entre as modalidades mais praticadas atualmente. Cartomagos, usando principalmente plataformas digitais como YouTube e Instagram, apresentam novidades em números, comercializadas e distribuídas por vários negócios digitais, que transcendem as tradicionais lojas de mágica.


Além das novidades criadas, vários deles adicionam uma gama enorme de baralhos exóticos e especiais, os quais, semanalmente, são oferecidos para mágicos, cardistas e colecionadores. A maioria destas edições são extremamente limitas em quantidades oferecidas, o que torna a competição de adquiri-las sempre uma disputa ferrenha!


O livro de Frisch apresenta a biografia de vários destes novos mágicos. Nota-se vários traços comuns em suas biografias. Quase todos vieram de famílias modestas, muitas com problemas familiares. Quase sempre tiveram alguma ligação com jogo, muitas vezes ilícito. Tornaram-se mágicos por paixão, mas caracterizam-se, em vários casos, por serem reclusos, embora tenham obtido certa fama no meio mágico, sendo não raramente, cultuados por uma legião de fãs.


O livro que aqui analisamos - Amoralman - detalha um desses casos. Derek Delgaudio é hoje um mágico conceituado, principalmente por um espetáculo escrito, dirigido e interpretado por ele. "In & Of Itself" é aplaudido pela crítica e público. E a história de Delgaudio se alinha com as observações de Ian Frisch: filho de mãe solteira, que se revelou lésbica, não conheceu seu pai. Vivendo com limitações financeiras e com o peso de uma mãe considerada fora dos padrões tradicionais da sociedade do meio oeste americano, teve que superar vários eventos de certa forma constrangedores, muitos terminando por fazer perder potenciais amigos. E isto se refletiu em não cumprir os padrões didáticos das escolas que frequentou, embora mostrasse uma inteligência acima desses padrões. E a cartomagia é o objeto de suas ilusões.

O "descobrimento" de uma loja de mágica (presencial) na cidade em que morava, de propriedade de um mágico que amava sua atividade, despertou nele a paixão pela arte, aprendida, principalmente, lendo os livros obtidos como pagamento por trabalhar na loja. Isto fez dele um especialista no manuseio de um baralho. Sua amizade com um croupier trapaceiro e experiente aprimorou essas técnicas, ao ponto deste seu amigo pedir que ele o substitui-se em um local privado, para trapacear no pôquer, atendendo a um organizador de seções deste jogo, nas quais muito dinheiro trocava de mãos. E foi o que, de certa forma a contragosto, fez durante certo tempo.


O cerne do livro é o relato, em detalhes, desta fase, curta, mas importante na sua formação técnica e moral. Assim, apesar de escrito por um mágico profissional de destaque, a obra não entra em muitos detalhes sobre a escalada dele na atividade. E, muito menos, apresenta números de mágicas, a menos da descrição superficial de alguns efeitos.


O amigo que lhe ofereceu o "emprego" temporário de croupier, em um diálogo ao final do livro, indica que vê Derek como um escritor, pela facilidade que apresenta na arte de contar histórias. Este feeling não está errado! O livro é bem escrito, com uma dramaticidade de livros de ficção, embora seja uma obra biográfica, de não ficção.


 


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Recomendo a leitura, embora deixe claro ao leitor que busca um livro de mágicas ou, no mínimo, um livro de biografia de um mágico, que isto não é o oferecido por Amoralman. Veja nele mais uma reflexão sobre a personalidade de uma pessoa tímida, que se recusa em várias oportunidades de fazer mágica para as pessoas, e que se vê envolvido em eventos que desafiam suas habilidades morais e mesmo técnicas. O título - Amoralman - vem deste drama interno vivido por Delgaudio: o de ser, eventualmente, uma pessoa amoral.


Se seu interesse foi despertado, boa leitura!




Uma resenha escrita por Cláudio Décourt (Ruberdec).



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